domingo, 28 de março de 2010

OS OLHOS DELAS (para Maria Luiza, minha filha)

Este texto foi escrito por Mário Benevides, pai de uma de nossas alunas, pós espetáculo em dezembro.

"A atriz sai de cena de cara lavada. Passa por todos apressada, não olha para ninguém, não quer tirar fotos nem autografar nada, quer a solidão ou a companhia de iguais. Seu melhor momento foi há pouco, no palco, uma atriz e seus olhos, uma atriz é seus olhos. E nada mais, se de fato for atriz. O resto, para ela, é acessório.

A bailarina sai de cena toda sorriso, o cabelo preso e os olhos com a mesma pintura que usou no palco. No palco, ninguém conseguia ver seus olhos embora todos os procurassem, admirando nela o mesmo sorriso de agora, seus saltos no ar, seus giros e o rosto fixo, a volta ao chão sempre firme, segura, leve, como leve é nos braços do par. No palco, era um corpo de baile inteiro, uma orquestra embaixo, - onde os olhos da bailarina? Só agora os vemos, pintados, lindos, o cabelo preso, o sorriso, agora, de perto.
Do que precisa um sonhador, um pragmático, um gênio, um rude, um gentil, o mais completo imbecil arrogante, do que precisa a paz, senão dos olhos de uma atriz durante, senão dos olhos de uma bailarina depois?"

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